sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Luís XV do Pontal

Não resisto a "publicar" um texto escrito por João Galamba no blog Aspirina B.

O Luís XV do Pontal
Passos Coelho, na sua obscena basicidade intelectual, vai-se expondo com regularidade, e regularidade crescente, como um ser de tortuosa complexidade afectiva. Na impossibilidade de consultarmos aqueles que decidiram expulsá-lo, e ao seu compagnon de route, das listas do PSD para as eleições de 2009, os quais terão de se ter sentido verdadeiramente traídos para tamanho castigo a uma das estrelinhas em ascensão no laranjal, podemos recordar vários episódios onde Passos se mostrou fraco com os fortes, como no congresso que o entronizou, e forte com os fracos, como na campanha eleitoral em contacto com populares. Agora, a utilização de expressões e léxico de calão para humilhar o povo português tomado como adversário – pulsão que começou em Fevereiro com o achincalho para não sermos “piegas” – está a revelar que temos um carroceiro à frente do Governo. Um carroceiro que se sabe protegido pela inexistência de imprensa, por um lado, e pela estupidez reinante na oposição, pelo outro. Por isso vai esticando a corda, embriagado pelo efeito que causa na sua claque o espectáculo de taberna com que se permite exercer a função de líder partidário e de Primeiro-Ministro. Com esta naturalidade, pois, descreveu como “regabofe” tudo aquilo que foi feito em Portugal antes de a sua augusta pessoa ter entrado em S. Bento.
Mas imaginemos que existia imprensa. Ou tão-só um jornalista com a oportunidade de honrar a classe. Nessa hipótese, Passos Coelho seria confrontado com estas perguntas:
1ª Qual a sua definição de regabofe?
2ª Em que período da História de Portugal ele situa o início do regabofe?
3ª No caso de esse período incluir Governos do PSD, como explica ele esse fenómeno e quem do seu partido responsabiliza por tal?
4ª Quais os factos políticos, económicos, legislativos, judiciais e cívicos que demonstram a existência de um regabofe?
5ª Que teria Passos Coelho feito de diferente se tivesse sido ele a governar durante o terrível regabofe e onde estão as suas declarações à época que comprovam a existência da sua denúncia do então em pleno vigor regabofe e a existência de propostas alternativas apresentadas in illo tempore para acabar com ele?
O seu discurso primário pode não ser artificioso, todavia. E essa é uma probabilidade que vai formando o desenho de uma certeza. Pode realmente ser o resultado do ambiente que frequenta, dessa cultura de violência e deslumbramento de que Relvas é o actual Farol de Alexandria. Passos poderá estar num processo de convencimento de que ele é mesmo um salvador, de que os problemas políticos se resolvem através de actos estouvados num processo de fuga em frente onde se concebe a comunicação política como a instauração de sucessivos maniqueísmos de acordo com os ventos e as marés. Qual Luís XV do Pontal, despreza tanto a inteligência, memória e dignidade dos seus concidadãos que não tem pudor em gritar ao povoléu as novíssimas palavras da salvação: Antes de mim, o dilúvio.
Por João Galamba, in Aspirina B

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