quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O erro crato

Agora, que estamos prestes a iniciar mais um ano lectivo, importa saber o pensamento do Ministro da Educação. André Macedo evidencia da melhor forma, na minha opinião, o pensamento de Nuno Crato.
O ministro da Educação quer desenvolver o ensino vocacional. Muito bem. Como seria bom que os estudantes pudessem escolher formações técnicas capazes de lhes transmitir (também) um saber profissional. Como seria excelente que estes cursos respondessem (também) às necessidades do mercado de trabalho. Como seria bom que não se desperdiçasse recursos atirando para cursos superiores pessoas que não os querem fazer. Já se pensou no tempo que poderíamos poupar? Na inteligência, energia e talento que um plano assim libertaria? Aposto que seríamos um país mais feliz e competitivo.
Mas se é assim tão evidente, porque nunca se deu este passo como deve ser? Porque será que a concretização se revela tão difícil? Porque será que as famílias e os alunos evitam esta escolha? A resposta está no projeto macabro de Nuno Crato. De acordo com o ministro, quem irá para estes cursos? Ora bem, além dos voluntários - coitadinho, tem 14 anos, mas não dá para mais... -, os que chumbarem duas vezes no ensino secundário também têm o destino traçado. É um castigo: és uma besta, vais já para jardineiro; sim, terás mais uma oportunidade para voltar ao ensino regular, mas para já ficas-te por aqui. Depois, se passares os exames do 9.º ou 12.º anos, logo veremos.
Não há dúvida: se a via profissional é apresentada como uma punição, é lógico que poucos - entre os bons e talentosos - quererão juntar-se a este gueto onde a qualidade será ridiculamente baixa. É lógico que só as famílias mais pobres ou desinformadas aceitarão este afunilamento precoce, cruel e estúpido das perspetivas. Os outros nem por um segundo pensarão em seguir este caminho (a segunda divisão!) que o próprio Governo se encarrega à partida de desvalorizar. O que isto revela de Nuno Crato é apenas um terrível cheiro a naftalina.
Na Alemanha, pátria do ensino vocacional, ninguém é chutado da "escola regular". Não se fecham portas. Não se elevam barreiras aos 14 anos em lado nenhum do mundo civilizado. Avaliam-se competências, oferecem-se alternativas. Não se apressam escolhas à reguada. A ligação às empresas é uma das maneiras de fazer isto com algum êxito: são as associações de empresários que, na Alemanha, ajustam a oferta de cursos profissionais às necessidades do mercado. Não há rigidez, há flexibilidade e oportunidade - a oportunidade de, na idade adequada, estagiar numa empresa. É por isso que 570 mil alunos alemães se inscreveram nestes cursos em 2011, contra os 520 mil que preferiram a universidade. Não foi porque lhes enfiaram orelhas de burro na adolescência.
Nuno Crato vive preocupado em exibir autoridade. Quer chumbar, punir, travar. Vê a escola como um centro de exclusão, não como espaço de desenvolvimento de competências sociais, culturais e técnicas - com regras, competição e exigência. Não tem um plano educativo desempoeirado: sofre de reumatismo ideológico. Engaveta os alunos. Encolhe o País. Reduz a riqueza. É matemático.
André Macedo, in Diário de Notícias.

sábado, 18 de agosto de 2012

Três universidades portuguesas entre as melhores 500 do mundo

A Universidade do Porto, a Técnica de Lisboa e a Clássica estão entre as 500 melhores universidades do MUNDO!!!
Segundo este ranking, a Universidade do Porto é que se encontra melhor classificada seguida da Universidade Técnica de Lisboa e depois a Universidade (Clássica) de Lisboa.
Estes dados constam do Academic Ranking of World Universities (ARWU) 2012, da Universidade de Jiaotong, de Xangai, na China.
No topo da lista estão a Universidade de Harvard, seguida da Universidade Stanford e, em terceiro lugar, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), todas americanas.
As 100 melhores são maioritariamente universidades norte-americanas, que têm quase a exclusividade dos primeiros 19 lugares do ranking. As exceções são a Universidade de Cambridge, posicionada em 5.º lugar, e a Universidade de Oxford, em 10.º.
A Universidade do Porto aparece entre as 301 e 400 melhores instituições, enquanto as Universidades Técnica e Clássica de Lisboa surgem entre as 401 e 500 melhores.
A partir da posição, 100 as universidades estão listadas de cem em cem, por ordem alfabética, desconhecendo-se o lugar exato que ocupam.
O ranking de Xangai é feito com base em quatro critérios: qualidade da educação (os alunos que foram prémios Nobel ou ganharam medalhas Fields), qualidade da instituição (professores e investigadores com prémios Nobel ou medalhas Fields), resultados da investigação (artigos publicados nas revistas Nature e Science e artigos citados) e dimensão (rácio de performance académica).
O ranking de Xangai e o Times Higher Education World University Rankings, do Reino Unido, são considerados de referência.
No fundo, apesar de termos, enquanto país, grandes universidades consideradas mundialmente, o governo corta cegamente no financiamento do ensino superior. Depois admirem-se de, nos próximos anos, afundarmos nesses rankings...
In Diário Económico

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Luís XV do Pontal

Não resisto a "publicar" um texto escrito por João Galamba no blog Aspirina B.

O Luís XV do Pontal
Passos Coelho, na sua obscena basicidade intelectual, vai-se expondo com regularidade, e regularidade crescente, como um ser de tortuosa complexidade afectiva. Na impossibilidade de consultarmos aqueles que decidiram expulsá-lo, e ao seu compagnon de route, das listas do PSD para as eleições de 2009, os quais terão de se ter sentido verdadeiramente traídos para tamanho castigo a uma das estrelinhas em ascensão no laranjal, podemos recordar vários episódios onde Passos se mostrou fraco com os fortes, como no congresso que o entronizou, e forte com os fracos, como na campanha eleitoral em contacto com populares. Agora, a utilização de expressões e léxico de calão para humilhar o povo português tomado como adversário – pulsão que começou em Fevereiro com o achincalho para não sermos “piegas” – está a revelar que temos um carroceiro à frente do Governo. Um carroceiro que se sabe protegido pela inexistência de imprensa, por um lado, e pela estupidez reinante na oposição, pelo outro. Por isso vai esticando a corda, embriagado pelo efeito que causa na sua claque o espectáculo de taberna com que se permite exercer a função de líder partidário e de Primeiro-Ministro. Com esta naturalidade, pois, descreveu como “regabofe” tudo aquilo que foi feito em Portugal antes de a sua augusta pessoa ter entrado em S. Bento.
Mas imaginemos que existia imprensa. Ou tão-só um jornalista com a oportunidade de honrar a classe. Nessa hipótese, Passos Coelho seria confrontado com estas perguntas:
1ª Qual a sua definição de regabofe?
2ª Em que período da História de Portugal ele situa o início do regabofe?
3ª No caso de esse período incluir Governos do PSD, como explica ele esse fenómeno e quem do seu partido responsabiliza por tal?
4ª Quais os factos políticos, económicos, legislativos, judiciais e cívicos que demonstram a existência de um regabofe?
5ª Que teria Passos Coelho feito de diferente se tivesse sido ele a governar durante o terrível regabofe e onde estão as suas declarações à época que comprovam a existência da sua denúncia do então em pleno vigor regabofe e a existência de propostas alternativas apresentadas in illo tempore para acabar com ele?
O seu discurso primário pode não ser artificioso, todavia. E essa é uma probabilidade que vai formando o desenho de uma certeza. Pode realmente ser o resultado do ambiente que frequenta, dessa cultura de violência e deslumbramento de que Relvas é o actual Farol de Alexandria. Passos poderá estar num processo de convencimento de que ele é mesmo um salvador, de que os problemas políticos se resolvem através de actos estouvados num processo de fuga em frente onde se concebe a comunicação política como a instauração de sucessivos maniqueísmos de acordo com os ventos e as marés. Qual Luís XV do Pontal, despreza tanto a inteligência, memória e dignidade dos seus concidadãos que não tem pudor em gritar ao povoléu as novíssimas palavras da salvação: Antes de mim, o dilúvio.
Por João Galamba, in Aspirina B