domingo, 9 de outubro de 2011

Muito obrigado, César

Sexta-feira, dia 07 de Outubro de 2011, Carlos César, Presidente do Governo Regional dos Açores e do PS/Açores, anunciou que não será candidato a novo mandato à frente do Executivo açoriano.

Carlos César chegou a Presidente do governo da RAA em Outubro de 96, fruto de uma estratégia de renovação, por si liderada, e de um cansaço existente na sociedade açoriana face aos sucessivos governos do PSD de Mota Amaral.
Chegado ao Governo, Carlos César encetou uma estratégia de modernização de todos os sectores da sociedade açoriana. E, na minha opinião, consegui este feito. Hoje, graças a Carlos César e ao PS, os Açores estão diferentes, para melhor. Seja na educação, na saúde, nas questões sociais, na economia e mesmo do ponto de vista financeiro. Lembro-me que, na altura de Mota Amaral, as transferências para a região baseavam-se no quão “bem dispostos” estavam os governantes de Lisboa. César e Guterres, na minha opinião o melhor Primeiro-Ministro de sempre para os Açores, arquitectaram uma Lei de Finanças Regionais excelente. Talvez um dos maiores legados de César, que permitiu um desenvolvimento sustentado da nossa Região.
Chegou, então, a hora da decisão, a mais difícil para César, porventura. Não se recandidatar a novo mandato. Fá-lo por uma questão de ética republicana e dos cargos públicos.
Posto isto, havia que arranjar um candidato a Presidente do Governo. Segundo as últimas notícias, existiam quatro: Vasco Cordeiro, José Contente, Sérgio Ávila e Ricardo Rodrigues.

A escolha Comissão Regional foi no sentido de Vasco Cordeiro, na minha opinião bem, por unanimidade, e em sistema de voto secreto. Ou seja, o órgão máximo, entre Congressos, do PS/A decidiu por Vasco Cordeiro como candidato a Presidente do Governo Regional. Mas falta algo... Os candidatos a Presidente do Executivo são os líderes dos partidos. Ou seja, no próximo Congresso do PS/A, Vasco Cordeiro terá de ser candidato a presidente do PS/A.
Vasco Cordeiro é, na minha opinião, um dos mais brilhantes políticos desta região. Tive oportunidade de lidar de perto com ele. Posso testemunhar que é dono de uma capacidade invulgar de trabalho, é muito metódico, para além das capacidades intelectuais incríveis.
Resta-me apelar aos militantes PS/A que se unam em torno de Vasco Cordeiro, pois será um Presidente do Governo Regional tão bom, senão melhor que Carlos César.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Jobs - O génio

Dia 05 de Outubro de 2011 deve ser uma data a recordar (não pelos 101 anos da implantação da república em Portugal – já o era) para a posteridade.
Morreu um dos maiores génios do século XX. De seu nome Steven Paul Jobs ou como era mais conhecido – Steve Jobs – co-fundador e presidente da Apple.
Ao longo de mais de 30 anos foi uma das personalidades mais emblemáticas do mundo da tecnologia. Steve Jobs fez amigos e inimigos e colecionou algumas frases marcantes:
“Não me incomodo com o sucesso deles. Só me incomodo com o facto de fazerem produtos de terceira categoria.” – Sobre a Microsoft, em 1996
“Relações destrutivas não ajudam ninguém na indústria atualmente.” – Ao anunciar a parceria com a Microsoft, em 1997
“Não faz sentido olhar para trás e pensar: devia ter feito isso ou aquilo, devia ter estado lá. Isso não importa. Vamos inventar o amanhã, e parar de nos preocupar com o passado.” – Em 2007, comentando sua orientação aos funcionários da Apple em 1997, quando voltou à empresa.
“Se você faz algo de bom e tudo dá certo, acho que é hora de pensar em outra coisa e tentar adivinhar o que vem pela frente.” – 2006, em entrevista ao canal NBC:
“Não penso muito em legado para as próximas gerações. Penso apenas em acordar de manhã e trabalhar com pessoas brilhantes para criar coisas que, espero, sejam tão apreciadas por outras pessoas como são apreciadas por nós.” – Em 2007, em evento do Wall Street Journal
“Para se ter sucesso, é necessário amar de verdade o que se faz. Caso contrário, levando em conta apenas o lado racional, você simplesmente desiste. É o que acontece com a maioria das pessoas.” – Em 2007, em evento do Wall Street Journal:
“Ninguém quer morrer. Mesmo as pessoas que querem chegar ao Paraíso não querem morrer para estar lá. Mas, apesar disso, a morte é o destino de todos nós. Ninguém nunca escapou. E deve ser assim, porque a morte é provavelmente a maior invenção da vida. É o agente de transformação da vida. Ela elimina os antigos e abre caminho para os novos”.Em 2005, durante palestra na Universidade de Stanford, um ano após ter passado por cirurgia para retirar um tumor no pâncreas.
Segundo a família, Jobs teve uma morte tranquila. Valha-nos isso...
O mundo perdeu um visionário e um génio criativo, mas perdeu, sobretudo, um ser humano notável.
Aproveito para deixar um site acerca de Steve Jobs:  http://allaboutstevejobs.com/

domingo, 2 de outubro de 2011

O verdadeiro especulador...

Será realidade ou ficção? Parece ser ficção...
O facto é que este "investidor", de nome Alessio Rastani dá esta entrevista à BBC deixando os dois entrevistadores sem saber o que dizer depois de o mesmo ter previsto a queda dos mercados e que o Euro está condenado.
A verdade é que existem "investidores" poderosíssimos que estão apostados em fazer cair o Euro, doa a quem doer.
Estes senhores, que foram os maiores culpados da crise financeira de 2008, não param um segundo na ânsia de fazer mais dinheiro custe a quem custar. E está a custar aos povos do mundo inteiro.
E todos os governos dos países mais poderosos estão capturados por estes piratas da era moderna...
Fonte:YOUTUBE

sábado, 17 de setembro de 2011

É sempre bom recordar Passos...


Vê lá se está a crescer...
No tempo em que Sócrates era Primeiro-Ministro, há poucos meses ainda, Passos vociferava contra o Governo e contra Sócrates. Por isso, vale a pena coleccionar algumas frases, ditos, apartes, afirmações, comentários ou outros pequenos acontecimentos para recordarmos mais tarde e podermos avaliar com realidade os casos em causa ou a sinceridade ou honestidade daqueles que com elas se comprometeram apoiados em factos reais.
Ouçamo-lo.
"Estas medidas põem o país a pão e água. Não se põe um país a pão e água por precaução."
"Estamos disponíveis para soluções positivas, não para penhorar futuro tapando com impostos o que não se corta na despesa."
"Aceitarei reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias."
"Sabemos hoje que o Governo fez de conta. Disse que ia cortar e não cortou."
"Nas despesas correntes do Estado, há 10% a 15% de despesas que podem ser reduzidas."
"O pior que pode acontecer a Portugal neste momento é que todas as situações financeiras não venham para cima da mesa."
"Aqueles que são responsáveis pelo resvalar da despesa têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus actos."
"Vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos."
"Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos."
"Queremos transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado."
"Já estamos fartos de um Governo que nunca sabe o que diz e nunca sabe o que assina em nome de Portugal."
"O Governo está-se a refugiar em desculpas para não dizer como é que tenciona concretizar a baixa da TSU com que se comprometeu no memorando."
"Para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa."
"Se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas."
"Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português."
"A ideia que se foi gerando de que o PSD vai aumentar o IVA não tem fundamento."
"A pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos."
"Não aceitaremos chantagens de estabilidade, não aceitamos o clima emocional de que quem não está caladinho não é patriota"
"O PSD chumbou o PEC 4 porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento."
"Já ouvi o primeiro-ministro dizer que o PSD quer acabar com o 13.º mês, mas nós nunca falámos disso e é um disparate."
"Como é possível manter um governo em que um primeiro-ministro mente?"
Conta de Twitter de Passos Coelho (@passoscoelho), iniciada a 6 de Março de 2010. Os twites aqui transcritos foram publicados entre Março de 2010 e Junho de 2011.

domingo, 28 de agosto de 2011

O Capitalismo desregulado, liberal e a um passo de um estoiro colossal


Eis a "receita" para um estoiro colossal:
·  Economia dos EUA sem soluções para crescer, o desemprego a subir e a dependência de credores internacionais é completa e total;
·   As Bolsas mundiais em queda livre;
·   Principais matérias primas a baixar;
·   O petróleo a descer e a ameaçar de fome metade do planeta;
·   Fugas massivas de capitais para os Paraísos Fiscais e o Ouro a subir sem parar;
·   Juros da especulação a subir e os Bancos Centrais a injectarem dinheiro na Banca comercial que não quer, nem pode endividar-se mais...mas que não tem outra solução;
·   Produtividade mundial a baixar e as Dívidas soberanas, até de alguns dos G7, a pedirem intervenções do FMI;
·   Défices monstruosos nos EUA, Japão, Itália, Portugal, Grécia, Irlanda e Espanha;
·   Dólares a serem impressos inflacionando todas as restantes economias;
·   Desemprego sempre a subir em todo o mundo;
·   Sucedem-se as falências de famílias e das empresas, ou a manterem-se de forma artificial...
Quando e onde haverá a primeira corrida aos depósitos bancários?
E em Portugal corre-se para o desastre, seguindo a cartilha do neo-liberalismo e da irresponsabilidade social, a toda a pressa?
Isto não deve chegar a Novembro ou Dezembro sem acontecimentos absolutamente inesperados e fora de controlo!
Está aí a receita do colossal desastre que nos aguarda...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Os nossos não querem mesmo pagar!!!


Notícia da Agência Financeira, a propósito dos rendimentos dos mais ricos portugueses:
“A criação de uma contribuição especial para resolver a crise está a dividir os mais ricos. Se uns estão dispostos a abrir os cordões à bolsa para pagar a crise. Outros dizem também que o que pagam ao Fisco já é uma contribuição para pôr em ordem as contas públicas.
Assim, imposto directo sobre a fortuna não há, mas quem ganha mais de 150 mil euros por ano paga uma taxa de IRS de 46,5%.
Segundo o «Correio da Manhã», Américo Amorim, o homem mais rico de Portugal, declarou 265 mil euros no IRS e pagou 64 mil às Finanças. O «rei» da cortiça tem um património avaliado em 2,6 mil milhões de euros e ocupa o primeiro lugar na lista das 25 maiores fortunas do país há quatro anos consecutivos.
Já Belmiro de Azevedo e Ricardo Salgado entregaram ao Estado quase metade dos rendimentos declarados ao fisco. O patrão da Sonae, terceiro português mais rico, declarou 1,1 milhões de euros e pagou 460 mil de IRS.
Menos do que o presidente do Banco Espírito Santo: Ricardo Salgado entregou 750 mil euros, com rendimentos declarados de 1,5 milhões.
Joe Berardo, o empresário da Madeira que este ano saiu da lista dourada dos 10 mais ricos, declarou ao Fisco 230 mil euros e pagou 77 mil.
Juntas, as 25 maiores fortunas representam mais de 10% de toda a riqueza produzida no país. Apesar da crise, os ricos estão este ano ainda mais ricos. O património destes milionários cresceu 20%.”
Bom, achei alguns destes valores um pouco estranhos e, como quem não quer a coisa, fui fazer contas e algo de errado se passa:
Américo Amorim: declara 265.000€, paga ao Fisco 64.000€ - um pouco mais da metade do deveria ter pago (123000€). Grandes deduções em sede de IRS deve ter o homem...
Belmiro de Azevedo: declara 1.100.000€, paga ao Fisco 460.000€ - deveria ter pago 511.500€...
Ricardo Salgado: declara 1.500.000€, paga ao Fisco 750.000€ - deveria ter pago 797.500€...
Joe Berardo: declara 230.000€, paga ao Fisco 77.000€ - deveria ter pago 106.950€...
Há qualquer coisa de errado nisto tudo... Ou se mudam as regras para que  o Estado comece, efectivamente, a cobrar a quem deve ou ISTO, qualquer dia, dá o “berro”!!!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Agora os franceses... Para quando os portugueses?


Depois de Warren Buffett chegam, agora, os milionários franceses, que detêm as dezasseis maiores fortunas da França, que “suplicaram” ao Governo Sarkozy para aplicar uma taxa especial sobre os rendimentos dos mais ricos para ajudar a debelar os problemas financeiros do país. A proposta do americano anda a estender-se à Europa de uma forma nunca vista anteriormente.
Warren Buffett pode ser tudo o que quisermos menos “parvo”. É óbvio que está a pensar a longo prazo e tem a perfeita consciência que se os ricos “não se chegarem à frente” neste momento muito delicado, no futuro não serão bem vistos pela população em geral, podendo mesmo haver represálias contra eles, como aconteceu, estes dias, na Alemanha com carros de alta cilindrada...
Estou a imaginar, daqui por uns dias, os milionários portugueses a fazerem uma conferência de imprensa conjunta a exigir ao Governo de Passos Coelho o mesmo tratamento que pretendem Buffett e os multimilionários franceses.
A lista dos mega-ricos franceses:
Jean-Paul Agon, presidente executivo da L’Oréal;
Liliane Bettencourt, accionista da L’Oréal;
Antoine Frérot, presidente executivo da Veolia Environnement;
Denis Hennequin, presidente executivo da Accor;
Marc Ladreit de Lacharrière, presidente da Fimalac;
Maurice Lévy, presidente executivo da Publicis;
Christophe de Margerie, presidente executivo da Total;
Frédéric Oudéa, presidente executivo do banco Société Générale;
Claude Perdriel, presidente do conselho de supervisão do Nouvel Observateur;
Jean Peyrelevade, presidente da Leonardo & Co France;
Franck Riboud, presidente executivo da Danone;
Stéphane Richard, presidente executivo da Orange;
Louis Schweitzer, presidente da Volvo e da AstraZeneca;
Marc Simoncini, presidente da Meetic e fundador da Jaïna Capital;
Jean-Cyril Spinetta, presidente da Air France-KLM, e do conselho de supervisão da Areva;
Philippe Varin, presidente da PSA Peugeot Citroën.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Ao que chegamos...



Nouriel Roubini
Warren Buffett
O conhecido filantrocapitalista Warren Buffett já defendeu, com todo o realismo, que a luta de classes existia e que a sua classe a tinha ganho: num contexto de estagnação dos rendimentos das classes trabalhadoras, a percentagem de rendimentos captada pelos 1% mais ricos passou, nos EUA, de 8,95% do total, em 1978, para 20,95%, em 2008 (semelhante a 1929). A taxa de IRS que incidia sobre o ultimo escalão de rendimento passou de mais de 70%, nos anos sessenta, para 35%, na actualidade e na melhor das hipóteses. A perversidade macroeconómica da desigualdade excessiva foi assinalada com notável limpidez por um Nouriel Roubini que, pelo menos temporariamente, decidiu fazer-nos companhia num espaço intelectual que procura andar entre Marx e Keynes:
John Maynard Keynes
Karl Marx
“Assistimos a uma redistribuição maciça do trabalho para o capital, dos salários para os lucros, a desigualdade de rendimentos e de riqueza aumentou. Esta redistribuição faz com que o excesso de capacidade e a falta de procura agregada sejam ainda piores. Karl Marx acertou: a certa altura, o capitalismo pode autodestruir-se porque não se pode continuar a transferir rendimento do trabalho para o capital sem que se gere excesso de capacidade e défice de procura agregada. E é isso que se está a passar. Pensámos que os mercados funcionavam, mas não é isso que está a acontecer. O que é racional do ponto de vista individual – cada empresa, para sobreviver e prosperar, corta os custos laborais cada vez mais –, ignora que os meus custos laborais são os rendimentos e o consumo de alguém. É por isso que este processo é autodestrutivo. Não se pode resolver o problema com liquidez. Quando existe demasiada dívida ou se supera a situação através do crescimento ou da poupança. Mas se toda a gente gasta menos e poupa mais nos sectores público e privado, então estamos perante o paradoxo keynesiano da poupança e podemos ter uma depressão.”
É neste contexto que Buffett vem pedir aos dirigentes políticos, em artigo no New York Times, que “parem de acarinhar os super-ricos”: “Enquanto as classes baixas e médias lutam por nós no Afeganistão e enquanto a maior parte dos americanos luta para fazer face às despesas, nós os mega-ricos continuamos a ter isenções fiscais extraordinárias”. Este apelo é de difícil concretização sistémica, uma vez que a concentração de dinheiro, perante a fraqueza dos contrapoderes relevantes, como os sindicatos, gera sempre concentração de poder e a correspondente adulação.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A destruição programada do SNS


Os cidadãos com rendimentos mais elevados também devem ter acesso gratuito a todos os cuidados de saúde prestados pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS). A concepção que esta afirmação encerra, e que está no centro da arquitectura do Estado social, não é uma herança de um qualquer tempo de vacas gordas em que se podia fazer tudo por todos até pelos ricos, como se ouve agora , nem exprime um pensamento utópico que ignora os condicionalismos dos recursos. Pelo contrário, assume que os recursos, além de serem limitados, são socialmente apropriados de forma assimétrica e em resultado de interesses divergentes e poderes desiguais. Procurando uma solução democrática de arbitragem e de escolha das finalidades a prosseguir, o Estado social procura encontrar as formas de redistribuição que melhor assegurem o bem-estar e a elevação geral do nível de vida dos cidadãos. Fazendo-o, o modelo em que ele assenta conseguiu resultados significativos ao nível da redistribuição de rendimentos, da diminuição das desigualdades e da racionalização dos recursos muito mais do que os modelos assistencialista ou neoliberal, apesar dos erros, falhas e atrasos.
Em Portugal, o caso do SNS é exemplar, tanto pela melhoria dos indicadores de saúde por que é responsável nas últimas décadas, como pelos problemas persistentes que são visíveis no seu interior, mas exigem resolução concertada noutros âmbitos (caso dos determinantes sociais da saúde, que requerem alterações de políticas em sede de trabalho, salário, escolarização, habitação, ambiente…). Em vez de se pensar na melhoria do SNS, a actual crise a ser usada como pretexto para introduzir no sistema mudanças há muito desejadas, algumas já parcialmente concretizadas (parcerias público-privadas…), por elites económicas que vêem na saúde, sector com «clientes» inesgotáveis e particularmente fragilizados, um negócios muito lucrativo e quase sem risco. Essas elites apenas precisam de um Estado facilitador, algo que se prepara tanto com as medidas do «Programa do Governo» apresentado por Pedro Passos Coelho, que levam ainda mais longe o que estava previsto no «Memorando de Entendimento» assinado com a troika, como com a atribuição da pasta da Saúde ao ministro Paulo Macedo, ex-administrador da Médis e especialista na gestão de seguros de saúde.
Voltemos ao exemplo inicial, porque em situação de crise profunda há sempre quem use todos os artifícios ideológicos para desviar os legítimos desejos de justiça social para os sítios onde ela é ilusória (assim não ocorre onde deve) e, pior ainda, para onde as mudanças serão especialmente prejudiciais para os que embarcaram no logro. A lógica que preside ao funcionamento do SNS diz que os cidadãos com rendimentos mais elevados, quando se vêem numa situação de doença ou de necessidade de vigilância do seu estado de saúde, já deverão ter pago impostos mais elevados do que aqueles que têm rendimentos mais baixos.
À chegada ao centro de saúde ou ao hospital, todos os cidadãos, pobres e ricos, têm por isso o direito de encontrar um serviço e profissionais que apenas se concentram nas suas necessidades de saúde. Por razões morais, é certo, que se prendem com o dever de assistência médica, mas também porque o próprio serviço de saúde já foi montado com recursos que atenderam às diferentes possibilidades de contribuição fiscal de cada cidadão. Sobre essa redistribuição de rendimentos alicerçam-se tanto o princípio do acesso universal e gratuito aos serviços de saúde como o modelo de financiamento do SNS que é capaz de lhe garantir sustentabilidade e qualidade. O princípio da universalidade e o modelo de financiamento são, assim, dois pilares inseparáveis: se um deles soçobrar, ambos colapsam e com eles todo o sistema.
Aceitando a saúde dos cidadãos como uma das moedas de troca do pagamento de juros usurários aos especuladores financeiros, o Estado português aceitou um pacote de austeridade que inclui o corte de 550 milhões de euros no SNS. É nestas condições de subfinanciamento que os serviços de saúde vão ser confrontados com um enorme conjunto de alterações no seu funcionamento. Em primeiro lugar, com o previsível regresso dos utentes forçados pela crise a renunciar aos seguros de saúde para que foram aliciados por anos de desinvestimento no SNS e investimento mediático em todos os defeitos do sistema. Em segundo lugar, vai ocorrer uma revisão das taxas moderadoras, que segundo o «Programa do Governo» se destina a «garantir que apenas se isenta quem realmente necessita dessa isenção e actualizar o seu valor», taxas essas que, além de onerarem imenso os que ficarão no SNS, pois tenderão a aproximar-se dos custos reais dos serviços prestados, preparam a porta de saída (dos serviços e do financiamento) dos cidadãos com menores recursos. Em terceiro lugar, prevê-se que este SNS pobre, que será de facto um pobre SNS, seja o palco onde se contratualizam com privados concessões na rede de cuidados primários (prioritariamente) e ainda mais convenções para a prestação de serviços, tudo em benefício de uma meramente ideológica maior eficiência dos privados, de uma suposta «livre escolha» e de uma responsabilização dos cidadãos pela sua própria saúde que já mostrou dar muito maus resultados e limitar-se a encobrir uma realidade de deterioração das condições substantivas que os cidadãos terão para fazer quaisquer escolhas livres ou assumir responsabilidades. Se a tudo isto somarmos, em quarto lugar, o anunciado «plano de prestações garantidas», que passará a definir, neste contexto austeritário, o que fica de fora dos cuidados e serviços de saúde prestados pelo SNS, não é difícil compreender que estamos perante uma verdadeira destruição programada do SNS. E nem será preciso mexer na Constituição da República.
Por Sandra Monteiro, em Le Monde Diplomatique.

sábado, 13 de agosto de 2011

Quem mais vai beneficiar com corte da TSU? A Banca, claro...


Para que se saiba, e muito sinteticamente, a Taxa Social Única (TSU), que tem sido centro de muitas discussões políticas, é a contribuição mensal paga à Segurança Social todos os meses pelos trabalhadores e pelas empresas portuguesas.
Para os trabalhadores, a TSU é a contribuição de 11% para a Segurança Social que todos os meses é descontada no salário. Já as empresas têm de pagar por cada funcionário 23,75% de TSU todos os meses.
Esta taxa é igual para todos os trabalhadores, salvo algumas excepções, independentemente do seu salário. Se o vencimento for de 1000 euros, o trabalhador paga 110 à Segurança Social que corresponde aos 11%. Ao mesmo tempo, a empresa que o emprega entrega de contribuição 237,50 euros.
O que está em causa no memorando da troika é a redução da TSU para as empresas. "Um objectivo vital do nosso programa é reforçar a competitividade, o que envolve uma grande (major, em inglês) redução nas contribuições dos empregadores para a segurança social", propõe o programa de ajuda financeira.

Segundo notícia do Dinheiro Vivo, serão os bancos os mais beneficiados pela descida da Taxa Social Única (TSU). Segundo o estudo do Governo e do Banco de Portugal, os serviços financeiros e seguros serão os sectores cujos custos directos e indirectos com remunerações mais vão descer.
Sem contar com a Administração Pública, e o já referido sector financeiro, os serviços de apoio prestados às empresas, o comércio de reparação de automóveis, bem como os serviços administrativos prestados às empresas serão os mais ganharão com a medida.
Do lado dos que menos ganham estão a electricidade, o gás e a água, os produtos farmacêuticos e informáticos.
Num cenário em que o corte da TSU afecte todos os sectores de actividade – que parece ser a solução mais provável neste momento – o relatório divulgado terça-feira pelo Ministério das Finanças revela a variação nos custos das empresas, não só com salários, mas também com consumos intermédios. Isto é, incorporando o efeito indirecto provocado pelas transacções entre empresas. Mesmo que uma empresa não exporte, se reflectir o corte da TSU numa descida dos preços, irá beneficiar as empresas exportadoras que negoceiam com ela.
"A inclusão dos efeitos indirectos aumenta quase para o dobro a redução dos custos das empresas, tornando por isso importante a diminuição dos preços nos sectores não transaccionáveis”, refere o relatório. Porém, avisa: o Governo terá de garantir que os preços descem nos sectores que não exportam, para que o impacto seja completo. Se as empresas não reflectirem essa redução, grande parte do efeito será perdido.
Estas simulações confirmam as conclusões do estudo do Conselho para a Promoção da Internacionalização que, há um mês, já alertava que mais de metade do benefício do corte da TSU será absorvido por empresas que representam apenas 2,5% das exportações nacionais. Os bancos ficariam com 6,5% do benefício.
Outra vez a Banca a beneficiar, os grandes responsáveis pela crise actual...
Cá para mim esta redução da TSU será a maior fraude da história da Política Económica de um Governo.